segunda-feira, 7 de maio de 2007

Princesas


Está é a história de duas mulheres, de duas prostitutas, de duas princesas. Uma delas se chama Caye, tem quase trinta anos, uma franja da moda e uma beleza discutível, bairrista. Além disso, tem uma mãe e não gosta de visitá-la aos domingos, porque vê nela seu próprio reflexo: Pilar é um espelho ingrato para Caye. Não gosta do que vê nele porque sabe que é seu futuro provável e próximo.

Zulema é uma princesa expatriada, doce e obscura, que vive diariamente o exílio forçado do desespero. Carrega sempre uma foto de seu filho, um resto de esperança plastificada em 3x4, que tira o tempo todo da carteira para mostrar às amigas de profissão,mas quem realmente precisa vê-la é ela mesma.

Quando elas se conhecem, estão em lugares diferentes, quase opostos. São muitas as meninas que vêem com receio a chegada de imigrantes à prostituição: elas roubam espaço e clientes com seu exotismo, barateiam os preços, dificultam o árduo trabalho.

Caye e Zulema não demoram a entender que, embora um pouco distantes, as duas caminham pela mesma corda bamba.

De sua cumplicidade, nasce esta história.

Caye logo se apaixona por um Manuel. Quer ver nele o homem de sua vida,embora ele o seja apenas por um instante. Caye não sabe amar, nunca amou muito, então se apressa e se confunde, amando aos trancos e barrancos.

Quer dar tudo o que tem guardado, que é muito,e chega ao segundo encontro com o coração na mão, disposta a entregá-lo. Como se fosse um fantoche, Caye despeja sobre Manuel todos os seus desejos. E é difícil estar à altura dos desejos de Caye.

Enquanto isso, Zulema tira fotografias furtivas entre as caixas registradoras do supermercado. Com isso, quer mostrar a seus pais que trabalha como caixa, como lhes disse em suas primeiras cartas, hoje tão distantes. Depois, à noite, caminha novamente nua entre as árvores assombradas da Casa de Campo.

Equilibrista experiente, se apóia no meio-fio apertado da calçada, em meio ao movimento lento e metalizado dos automóveis, dando saltos sobre a terna fragilidade de seus vinte e tantos anos nus.

Caye diz que as princesas são tão sensíveis que não podem viver longe de seus reinos porque morreriam de desgosto. Alguma razão ela deve ter, pois os dias se tornam cada vez mais difíceis para Zulema, os silêncios mais longos, as calçadas mais estreitas.

Sua amizade imprevista servirá, para as duas,como um refúgio temporário, um abrigo ensolarado,compartilhado, onde podem se sentar e conversar com uma ternura à qual não estão acostumadas.

Podem rir de tudo e de nada, alheias, tranqüilas, como se tivessem deixado toda a culpa e os passosemfalso de fora, como se o tempo aqui passasse mais devagar.

Nesta história, há também um cabeleireiro que tem a pretensão de ser um salão de beleza, freqüentado pelas meninas, que querem conversar mais do que cortar o cabelo. Lá,discutem, comentam, riem, brigam, com os celulares sempre à mão, sem parar de tocar.

Aqui, conhecemos Blanca, uma princesa deserdada, que, uma vez, foi bela e rica, e hoje sempre se esconde no fundo do banheiro. A droga lhe tirou tudo, menos o encanto, disso não foi capaz.

Conhecemos também Caren, Ángela, Rosa… e as outras, as mulheres invisíveis, do olhar secreto. Você não encontrará ninguém, nem político nem cliente, que admita tê-las visto, ter escutado de suas bocas uma palavra, uma risada ou um lamento. Escutará muitos falando em seu nome, mas nunca com elas. Quando quiserem salvá-las, escondê-las ou escorraçá-las, você não poderá escutá-las, porque ninguém lhes pergunta nada, nunca.

Pagam diariamente os altos impostos da precariedade e do desprezo, todas as noites leiloam seus corações,vagam,confusas, pelos bosques desencantados que rodeiam as cidades,procurando o caminho de volta que, uma vez, perderam.

No entanto, a cada noite, na Casa de Campo, baforam quando riem, reunidas em torno da fogueira, cúmplice de suas conversas. Se escutássemos com atenção, as ouviríamos falar com uma ternura incomum sobre seus namorados, seus filhos, sobre o que a vida ainda lhes reserva; as escutaríamos discutir, prometer, às vezes se lamentar, embora discretamente, sem prejudicar a alegria.

Também as escutaríamos comemorar seu aniversário um dia, servindo um frango assado comprado de um dos ambulantes que freqüentam seus territórios. Em seguida, o brinde emocionado, cerveja em copos de plástico, as palavras presas na garganta, os aplausos, as risadas, as lembranças já perdidas devido à tão longa ausência.

Enquanto isso, atrás delas, o horizonte majestoso da cidade dorme tranqüilo, alheio a tudo. Mas ali em cima, está a vida, falando em diferentes línguas o idioma comum da esperança.

Ficha Técnica
Título Original: Princesas
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 113 minutos
Ano de Lançamento (Espanha): 2005
Site Oficial: www.princesasthemovie.com
Estúdio: Canal+ España / Reposado Producciones / Mediapro / Antena 3 Televisión
Distribuição: Art House Movies
Direção: Fernando León de Aranoa
Roteiro: Fernando León de Aranoa
Produção: Fernando León de Aranoa e Jaume Roures
Música: Alfonso Vilallonga
Fotografia: Ramiro Civita
Direção de Arte: Llorenç Miquel
Figurino: Sabine Daigeler
Edição: Nacho Ruiz Capillas


Elenco
Candela Peña (Cayetana)
Micaela Nevárez (Zulema)
Mariana Cordero (Pilar)
Llum Barrera (Gloria)
Violeta Pérez (Caren)
Monica Van Campen (Angela)
Flora Àlvarez (Rosa)
Maria Ballesteros (Blanca)
Luis Callejo (Manuel)
Alejandra Llorente (Mamen)
Pere Arquillué (Carlos)
Pepa Aniorte (Alicia)
Alberto Ferreiro (Voluntário)
Enrique Villén (Dono do bar)


Premiações
- Ganhou 3 prêmios no Goya, nas categorias de Melhor Atriz (Candela Peña), Melhor Revelação Feminina (Micaela Nevárez) e Melhor Canção Original ("Me Llaman Calle"). Foi ainda indicado em outras 6 categorias: Melhor Filme, Melhor Figurino, Melhor Penteado, Melhor Roteiro Original, Melhor Revelação Masculina (Luis Callejo) e Melhor Som.


Curiosidades
- As filmagens ocorreram entre 13 de setembro e 30 de dezembro de 2004.


- Exibido na mostra Panorama do Cinema Mundial, no Festival do Rio 2006.


Trailer

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