domingo, 6 de dezembro de 2009

"As pessoas achavam que meu talento não era verdadeiro", diz Mallu Magalhães, que acaba de lançar novo álbum


Muitas mudanças costumam acontecer no período de um ano da vida de um adolescente comum. Mallu Magalhães, que não é uma adolescente qualquer, teve de lidar com mudanças drásticas em sua vida desde que virou artista há menos de dois anos. Com 17 anos de idade, a paulistana chega a seu segundo álbum com mais vigor e um pouco mais pronta para encarar os desafios que vêm surgindo em sua trajetória.


Para Mallu, é difícil apontar apenas uma diferença entre o primeiro e o novo trabalho. “O primeiro disco era uma coletânea, com composições que eu havia feito na minha vida até aquele momento. O segundo é uma outra abordagem, são músicas compostas em um período de seis meses”, disse a cantora por telefone ao UOL Música. “É um disco muito direto”.


De fato, as diferenças são grandes. Logo de cara, o que mais chama a atenção é o fato do novo disco de Mallu se desprender – ainda que não totalmente – das amarras do folk e do country, para abraçar outros estilos, como a música brasileira, o pop psicodélico dos anos 60 e até mesmo o reggae. Um ponto mais do que positivo.


Em segundo lugar, Mallu não é mais uma artista independente. O novo álbum chega ao mercado por uma grande gravadora, a Sony BMG, “que ofereceu um contrato livre, com alma independente”. “Eu fiz o disco primeiro e depois negociei com eles, que me deram uma abertura bem grande pra fazer o que quiser”, conta. “Não estou me sentindo pressionada com nada até agora”.


Mas não são as músicas ou as possibilidades que podem existir com a nova gravadora os fatores que mais deixam Mallu mais orgulhosa, mas sim ter feito um disco que agradou as pessoas que ama. “Meu pai é critico e gostou muito. Minha mãe também. Assim como o Marcelo [Camelo], que ficou feliz e emocionado”, conta. “Deixar eles orgulhosos me deixa muito satisfeita”.


Mais madura, Mallu lembra do que mais a incomodou na época em que saiu seu primeiro trabalho. “As pessoas achavam que meu talento não era verdadeiro, que eu era criação de gravadora”. Os fãs nunca a deixaram duvidar de si mesma, entretanto. Um apoio fundamental para uma menina de então 16 anos. “O carinho dos fãs realmente me deixou super emocionada. É um combustível que a gente acaba tendo”, diz. “Eles são uma das principais razões pra eu continuar. Quando penso em desistir eu lembro dos fãs”.


A produção, que no primeiro trabalho foi assinada por Mário Caldato, dessa vez ficou a cargo do carioca Kassin, que tocou no Acabou La Tequila e é responsável pela produção dos últimos álbuns do Los Hermanos. A escolha foi fácil. “Fui ver quem tinha produzido meus discos recentes preferidos e logo pensei no Kassin”, conta.


O produtor ainda participou do disco como músico, tocando baixo, sintetizador e percussão em algumas das faixas. No time das participações especiais aparece também o baterista Maurício Takara, do grupo paulistano Hurtmold e da banda de apoio de Marcelo Camelo, namorado de Mallu que também participa em quatro músicas.


A participação do namorado, porém, aconteceu com maior intensidade nos bastidores, uma vez que Camelo, ex-integrante do Los Hermanos, tem grande experiência no cenário musical e com as grandes gravadoras. “Foi exatamente isso que aconteceu”, conta. “O apoio dele foi fundamental pra mim”.


Quase metade das músicas do novo disco traz letras em português, em contraste com apenas duas do primeiro álbum. Mais bem elaboradas tanto em letras quando nos instrumentos, as canções fluem bem em meio às composições em inglês. “Acho que é um desafio muito grande isso. O jeito de usar as palavras é bem diferente em português e inglês, então eu tentei deixar tudo natural”.


A cantora, que usa um dicionário de sinônimos e antônimos na hora de escrever suas músicas, se diz apaixonada pelo português e diz que compor na língua traz mais responsabilidades. “Também tem que se preocupar com as rimas, porque já existem tantas que fica feio colocar as mesmas”, explicou. “O inglês é abrangente, mas não como o português, que tem mais palavras, mais fonemas”.


O novo disco de Mallu Magalhães tem uma produção excelente, boas canções em português (“Compromisso” e “Versinho de Número Um”) e inglês (“Make It Easy”, “Shine Yellow” e “Bee On The Grass”, esta talvez a melhor composição da cantora até o momento), boas participações e uma distribuição que deve alcançar um público maior. Mas, acima de tudo, este é um trabalho que mostra uma cantora que, apesar da pouca idade, parece estar bem mais à vontade com seu talento e com tudo aquilo que está ao seu redor.

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