quarta-feira, 12 de maio de 2010

Keith Haring



Keith Haring foi um dos grandes artistas plásticos da década de 1980. Durante toda sua carreira, seu estilo foi marcado por traços grossos, formas simplificadas e cores contrastantes. Fez fama em Nova York, mas espalhou trabalhos pelo mundo todo, antes de sua morte em 1990. Foi um dos poucos artistas recentes que conseguiu fazer um trabalho que agradava tanto os críticos como os leigos.

Haring nasceu em 1958, em Kutztown, Pennsylvania. Bastante jovem, demonstrou talento para o desenho, criando bonequinhos que, na sua concepção na época, não eram “arte”. Depois do colegial, em 1975, foi estudar arte em Pittsburgh, onde aprenderia a fazer algo comercialmente produtivo, mas não ficou lá por muito tempo. “Logo percebi que não queria ser um ilustrador ou designer gráfico. As pessoas que faziam isso pareciam muito infelizes; diziam que isso era apenas um emprego enquanto faziam seus trabalhos pessoais nas horas vagas, mas na verdade acabavam perdendo sua arte. Eu larguei a escola”. Antes de cair fora, no entanto, conseguiu fazer lá sua primeira grande exposição, onde mostrou aquele que seria seu estilo por muito tempo: enormes painéis abstratos de pequenas formas interconectadas e coloridas.


Em 1978 conseguiu uma bolsa de estudos na Escola de Artes Visuais de Nova York. A energia da metrópole permitiu que Haring expandisse seus horizontes de várias maneiras. Lá, estava cercado pelos artistas experimentais da East Village; conheceu pessoas dos mais variados tipos étnicos e culturais; conseguiu a liberdade para desenvolver sua indentidade gay; e conheceu a cultura de rua, principalmente os grafites das estações de metrô de Nova York.

Em 1980, Keith começou a desenhar em painéis publicitários vazios do metrô, criando os trabalhos que o tornariam famoso. “Os cartazes publicitários que preenchem as estações de Nova York são trocados periodicamente. Quando não há anúncios novos o suficiente, preenchem o painel vazio com uma folha de papel preto. No dia em que os notei, numa estação do Times Square, subi imediatamente, comprei giz, voltei e comecei a desenhar sobre um deles”. Haring havia encontrado uma forma original de levar seu trabalho para o público, e logo tornou-se conhecido sem ter que passar pelo crivo dos críticos. Esse tipo de situação lhe permitia receber uma avaliação imediata do público. As pessoas o viam desenhando e lhe desejavam boa sorte, ou não entendiam o que estava acontecendo, ou, se fossem policiais, às vezes o prendiam. Muitas vezes o cartaz ficava apenas um dia ou dois “exposto”, antes de ir para o lixo.


Foi nesses trabalhos no metrô que Haring desenvolveu grande parte do vocabulário visual que viria a se tornar sua marca registrada: bebês engatinhando, discos voadores, cachorros latindo, pirâmides vibrando, homenzinhos que voam, sempre desenhados de maneira crua e rápida. Não demorou muito para que ele conseguisse um agente que oferecesse seus trabalhos para os colecionadores de arte, e Haring conseguisse viver exclusivamente de sua arte. Em pouco tempo ele tinha obras sendo exibidas em várias partes do mundo, incluindo a Bienal de São Paulo em 1983 e um mural no Rio de Janeiro em 1984. Haring tornou-se um dos artistas mais conceituados da época, e suas obras valiam milhares de dólares.

O sucesso teve seus efeitos adversos. Em 1986 Haring parou de desenhar no metrô: seus desenhos eram roubados poucas horas depois de concluídos, e ressurgiam à venda em poucos dias. Os altos preços de seus trabalhos impossibilitavam que o público comum tivesse acesso a eles; ao mesmo tempo, reproduções de suas obras enfeitavam camisetas e bermudas do mundo todo. A fim de diminuir o abismo que se abria entre ele e o público e atender a essa demanda, Haring abriu neste ano a Pop Shop, onde vendia pôsteres, roupas e artigos variados com desenhos de sua autoria. Se o mundo da arte não passava de um mercado, que pelo menos aqueles que não são podres de ricos tenham acesso a ela também.


Keith contribuiu para campanhas importantes para a época, como o desarmamento das armas nucleares, criando cartazes e panfletos. Depois de anunciar numa entrevista à Rolling Stone em 1988 que tinha AIDS, a prevenção da doença ganhou sua atenção. Haring morreu em 1990, sem jamais ter parado de trabalhar. Pouco antes de sua morte, montou a Keith Haring Foundation, que colabora com projetos de auxílio a crianças e prevenção da AIDS. Suas obras continuam circulando o mundo da arte em mostras do mundo todo. Haring foi sem dúvida um dos artistas mais pop (e populares) dos anos oitenta; não era de se espantar, portanto, encontrar seu trabalho no fundo de um espetáculo que, afinal de contas, se chamava Pop Tour.

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Citações retiradas de trechos do diário do artista e entrevistas com ele, disponíveis no site

http://www.haring.com/

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