quinta-feira, 6 de maio de 2010

Quem Grace pensa que é pra falar mal de Gaga?



Grace Jones deixou os fãs de Lady Gaga muito irritados esses dias. Sem medir palavras, disse que a Miss Pokerface copiava seu estilo. Esnobou também um convite para uma colaboração em estúdio. As caixas de comentários se encheram de indignação: “Quem essa Grace pensa que é?”

Está certo que Grace Jones não precisava ser tão antipática, ainda mais que Lady Gaga é sua fã assumida. Mas ela é Grace, não gracinha, e vive nesse pedestal de divindade faz tempo. Coisas de quem não pensa, mas sabe que é, há décadas, um ícone da música, do cinema, da fotografia, do estilo, da moda e da imagem. Ela não está dizendo nenhum absurdo ao olhar para Gaga, seus figurino exótico, sua aura bizarra de diva extra-terrestre, bocejar e dizer “já fiz tudo isso antes”.

Grace é professora, Gaga ainda é aluna. Simples assim.
Veja a relação das duas com Andy Warhol, por exemplo. O mestre da pop art é influência-chave para Gaga, que o descobriu numa exposição de museu e depois passou a devorar tudo sobre ele. Já Grace, veja bem, era amiga pessoal e musa de Andy Warhol, que a fotografou incontáveis vezes. Grace e Warhol, o artista mais influente do nosso tempo, faziam balada juntos no Studio 54.





Grace Jones pintada por Keith Haring



Grace também trabalhou em moda, filme, arte e foto com caras poderosos como Arnold Schwarzenegger, o pintor/grafiteiro Keith Haring, o fotógrafo Jean-Baptiste Mondino e o diretor de arte Jean-Paul Goude (autor da famosa foto no topo deste post; ex-marido de Grace). Apesar de ter trabalhado com o estilista Alexander McQueen e Beyoncé, Gaga ainda não foi muito longe no quesito parcerias.

O álbum The Fame, de Lady Gaga, é de 2008; Grace tinha lançado o seu Fame exatamente 30 anos antes.

Esclarecendo: eu gosto muito de Lady Gaga, acho sua presença no pop uma das coisas mais interessantes do momento. Até a hora que tenho que ouvir uma de suas músicas. Seu pop meia-boca não faz jus ao exuberante personagem que construiu. Talvez ainda chegue nisso, mas por enquanto ousadia, originalidade e polêmica encontra-se em todos os aspectos de Lady Gaga, menos na música. Gaga regurgita o mesmo electro-pop-dance toda vez (o padrão segue nas duas músicas novas anunciadas esta semana, “Superstar” e “Then You Love Me”).






Já Grace Jones tem música fantástica de sobra na sua discografia,. Passeou por disco, soul, rock, eletrônico, dub, tango, reggae e chanson francesa. Seus álbuns da primeira metade dos anos 80, como Nightclubbing e Warm Leatherette, são irretocáveis. Ela trabalhou com alguns dos melhores produtores e músicos da época como Nile Rodgers (da banda Chic), Chris Blackwell, Sly & Robbie, Wally Badarou e Trevor Horn. Ouça faixas como “Pull Up to the Bumper”, “Libertango”, “Slave To The Rhythm”, “I’m Not Perfect (But I’m Perfect for You)”, “My Jamaican Guy” e “Walking In The Rain”. Música de primeira grandeza, toda ela.






É verdade que Grace lançou bastante música fraca até chegar nisso. Seus três primeiros discos trazem um som disco convencional que não envelheceu bem, seguindo, como Gaga faz hoje, fórmulas comerciais da música dançante da época (há exceções nesse período, como a magnífica versão que gravou de “La Vie En Rose”, de Edith Piaf). Tiveram muito sucesso comercial, mas depois isso passou. Foi nesse momento que Grace resolveu ousar mais. E o resultado foi o melhor possível.
Será que Gaga um dia fará algo parecido? No momento, é pouco provável. Não se mexe em time que está ganhando, ainda mais na base dos milhões. Mesmo no seu melhor momento, Grace nunca atingiu as estratosferas de vendas que Gaga consegue. Com tanto em jogo, arriscar fica mais complicado. Mas eu torço para que as coisas mudem e vejamos a fenomenal Lady Gaga envolvida com música bem doida, diferente e impressionante, algum dubstep, ou uma fusão italo-electro-disco-rock ou fazendo monumentos sônicos a la Fever Ray.
Enquanto isso, a uma distância saudável do turbilhão de celebridade que ajudou a fundar nos anos 70 (sim, o Studio 54 pode ser considerado o marco zero da Era dos Famosos), Grace segue fazendo coisas bacanas, chamando a atenção apenas de seus (muitos) fãs dedicados.
Seu último disco, Hurricane (2008), está saindo agora em luxuosa edição especial em vinil. Veja que coisa chique.
Veja aqui o canal de vídeos de Grace no YouTube com comerciais, clipes e outros itens bacanas.
E aqui dá pra ideia de como Jean-Paul Goude montou a famosa foto que abre o post, usada na capa da coletânea Island Life.



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