O jovem pintor afro-americano era filho de Gerard Jean-Baptiste Basquiat, ex-ministro do interior do Haiti que se tornou proprietário de grande escritório de contabilidade ao imigrar para os Estados Unidos e de Mathilde Andrada, de origem portorriquenha. Era o primeiro, dos três filhos do casal, de classe média alta.
O menino Jean-Michel, como toda criança, aos três anos já desenhava caricaturas e reproduzia personagens dos desenhos animados da televisão. Mas seu gosto pela arte se tornou coisa séria e um dos seus programas favoritas era, já aos seis anos, freqüentar o MOMA, Museu de Arte Moderna, de onde tinha carteira de sócio-mirim.
Uma tragédia o colocou ainda mais próximo da arte, quando aos sete anos foi atropelado e no acidente teve o baço dilacerado. Foi submetido a uma cirurgia e ficou uma temporada no hospital. Sua mãe, então lhe deu de presente um livro de anatomia, Gray's Anatomy, que teria grande influência em seu futuro de artista, revelado pelas pinturas de corpos humanos e detalhes de anatomia e até no nome da banda musical de curta duração que fundou em 1979: Gray's, que assumia as influências dos ventos latinos, vindos do Caribe e Porto Rico, que sopravam sobre a cena artística de Nova York, como o hip hop, o break e o rap.
Com o artista gráfico Al Diaz cria a SAMO (same old shit - mesma velha merda), marca e assinatura que usava para espalhar as suas obras pelas paredes da cidade. Passa a viver nas ruas e a grafitar paredes, portas de casas e metrôs de Nova York.
Aos poucos torna-se uma celebridade, começa a aparecer num programa da TV a cabo e é convidado a participar do filme Downtown 81, investindo o dinheiro que ganhou em materiais de pintura. O filme relata um dia na vida do jovem artista à procura da sobrevivência e mistura hip hop, new wave e graffiti, manifestações artísticas típicas do início da década de 80.
Começa a pintar telas que passam a ser adquiridas e comercializadas por marchands de Zurique, Nova York, Tóquio e Los Angeles, ávidos por novidades. De artista que vivia precariamente passa a ser um artista consumido e recebido nos salões mais chiques e exclusivos de Nova York.
A arte de Basquiat, chamada de "primitivismo intelectualizado", uma tendência neo-expressionista, retrata personagens esqueléticos, rostos apavorados, rostos mascarados, carros, edifícios, policiais, ícones negros da música e do boxe, cenas da vida urbana, além de colagens, junto a pinceladas nervosas, rabiscos, escritas indecifráveis, sempre em cores fortes e em telas grandes. Quase sempre o elemento negro está retratado, em meio ao caos. Há também uma dessacralização de ícones da história da arte, como a sua Mona Lisa(acrílico e óleo sobre tela) que é uma figura monstruosa riscada no suporte.
O período mais criativo da curta vida e da carreira meteórica de Basquiat situa-se entre 1982-1985, e coincide com a amizade com Warhol, época em que faz colagens e quadros com mensagens escritas, que lembram o graffiti do início e que remetem às suas raízes africanas. É também o período em que começa a participar de grandes exposições.
Solitário, exagera no consumo de drogas e em agosto de 1988 acontece a trágica morte por overdose de heroína, que põe fim à carreira brilhante do primeiro afro-americano a ter acesso à fechada cena das artes plásticas novaiorquinas e, a partir daí, presença nas mais importantes mostras do mundo, entre elas, uma sala especial, em 1996, na 23ª Bienal de São Paulo, e em 1998, uma retrospectiva na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
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